Após uma infância de maus-tratos e uma juventude regada a
festas, ela trocou o chapéu de cowboy que costuma usar pelo véu completo. Hasna
Ait Boulahcen, prima do suposto autor intelectual dos atentados de Paris, é
suspeita de ser a primeira mulher suicida na França.
Bem antes do amanhecer de quarta-feira, a polícia
francesa lançou o assalto a um apartamento em Saint-Denis, ao norte de Paris,
onde se escondia Abdelhamid Abaaoud.
"Onde está seu amigo, onde está?", grita um
policial de elite. Uma voz rouca e estridente responde: "Ele não é meu
amigo!". Seguem detonações e, pouco depois, uma explosão.
Na frente da televisão, Hassane, Sofiane e outros
vizinhos do edifício onde sua mãe vive, e onde foi vista pela última vez há dez
dias, reconheceram imediatamente sua foto, que rapidamente circulou pelas
emissoras de televisão e, especialmente, sua voz.
Há seis meses, a súbita transformação da jovem de 26 anos
surpreendeu os moradores de Aulnay-Sous-Bois, um bairro popular de Paris. Hasna
Ait Boulahcen "havia começado a usar o hijab (a túnica que cobre todo o
corpo, exceto o rosto) para, um mês depois, adotar o niqab.
Ela fabricou sua
própria bolha, mas não procurava estudar a religião, eu nunca a vi abrir um
Alcorão", indicou à AFP um homem que se apresenta como seu irmão e que
pediu anonimato.
Até então, seus familiares conheciam uma jovem comum, de
"calça jeans e óculos escuro".
"Às vezes excêntrica", conta Sofiane. Seu
apelido? "Chapéu de palha, porque ela o usava com frequência. Brincalhona,
mas também instável, ela podia aparecer na sua frente e fazer um rap".
"Lavagem cerebral"
Mesmo espanto em Creutzwald, cidade no leste da França,
para onde a jovem ia com frequência visitar seu pai, de 74 anos.
Lá, ela é lembrada como uma menina festeira, "com
seu chapéu e botas de cowboy", que "de vez em quando fumava e bebia
nas festas", conta um velho amigo, Jerome.
O pai, um muçulmano praticante que deixou a família para
trabalhar para Peugeot, está atualmente no Marrocos.
Nascida em agosto de 1989, nos arredores de Paris, Hasna
Ait Boulahcen teve uma infância difícil, marcada por maus-tratos, sendo
colocada em um lar adotivo entre 8 e 15 anos.
"No início, tudo corria bem. Era uma garota como
qualquer outra", mas sem qualquer gesto de ternura, testemunha sua mãe
adotiva à AFP.
Então as coisas se deterioram: "Para mim, o problema
vinha de sua casa", das visitas uma vez por mês a seus pais. Ela se lembra
de 11 de setembro de 2001, quando a menina "aplaudia os ataques nos Estados
Unidos assistindo TV".
Aos poucos, a adolescente passou a fazer apenas o que lhe
agradava.
Algumas peculiaridades também: "Ela sempre envolvia
sua cabeça com um pano e dizia que era o diabo à noite".
Ela deixou a família de repente, aos 15 anos. Último contato
foi em 2008. "Quando ela saiu, eu disse a mim mesmo: 'está perdida",
disse a mãe adotiva, que chorou ao descobrir ver sua imagem na televisão.
"Ao crescer, ela perdeu as referências, multiplicou
as fugas, as más companhias", resume seu irmão.
De acordo com uma fonte próxima ao caso, a jovem era
fichada na polícia por um caso ligado às drogas.
Depois de sua súbita radicalização, uma "lavagem
cerebral" segundo sua mãe, de 58 anos, a jovem "passava seu tempo
criticando tudo, ela não aceitava nenhum conselho e mantinha relações
questionáveis", lembra o irmão.
"Ela estava sempre com com seu smartphone no
Facebook e WhatsApp". Três semanas atrás, ela partiu para morar com uma
amiga em Drancy. "Estamos muito tristes por todas as vítimas", ele
repete.
Fonte: G1