A boiúna, de
mboi, "cobra" e una, "negra", também conhecida como boiaçu,
de mboi e açu, "grande", ou ainda cobra-grande é, segundo Câmara
Cascudo, o mais poderoso e complexo dos mitos amazônicos, exercendo ampla
influência nas populações às margens do rio Amazonas e seus afluentes.
Faz parte do
ciclo dos mitos d'água, de que a cobra é um dos símbolos mais antigos e
universais. Senhora dos elementos, a cobra-grande tinha poderes cosmogônicos,
explicando a origem de animais, aves, peixes, o dia e a noite. Mágica,
irresistível, polimórfica, aterradora, a cobra-grande tem, a princípio, a forma
de uma sucuri ou uma jibóia comum. Com o tempo, adquire grande volume, abandona
a floresta e vai para o rio. Os sulcos que deixa à sua passagem transformam-se
em igarapés. Habita a parte mais funda do rio, os poções, aparecendo vez por
outra na superície. É descrita como tendo de 20 metros a 45 metros.
Martius
(Viagem pelo Brasil) registrou a força assombrosa do medo que os indígenas
tinham do monstro, com as dimensões multiplicadas pelo terror. Chamavam-no de
Mãe-d'água e Mãe-do-rio, mas as histórias só mencinavam a voracidade da
cobra-grande, arrebatando crianças e adultos que se banhavam. Recusavam-se a
matar a cobra, porque então era certa a própria ruína, bem como de toda a
tribo.
Esse
registro, de 1819, denuncia a existência de um outro mito entrevisto e anotado
por Barbosa Rodrigues (Poranduba Amazonense), o da constelação do Serpentário
(Ofiúco), que aparece no céu em setembro, o tempo das roças, princípio do tempo
de Coaraci, o Sol. Couto de Magalhães ouviu a lenda de como a noite apareceu,
numa época em que não havia noite, e a filha de Cobra-grande pediu a noite ao
pai como presente de casamento.
Há ocasião
em que nenhum pescador se atreve a sair para o rio à noite, pois duas vezes
seguidas foi avistada uma Cobra-grande... pelos olhos que alumiavam como
tochas. Os pescadores foram perseguidos até a praia, somente escapando porque o
corpo muito grande encalhou na areia. Esses pescadores ficaram doentes de
pânico e medo da experiência que relatavam com real emoção. (Eduardo Galvão,
Santos e Visagens, Brasiliana, São Paulo, 1955).
Lendas da Boiúna
Em Belém, há
uma velha crença de que existe uma cobra-grande adormecida embaixo de parte da
cidade, cuja cabeça estaria sob o altar-mor da Basílica de Nazaré e o final da
cauda debaixo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outros já dizem que a tal
cobra-grande está com a cabeça debaixo da Igreja da Sé, a Catedral
Metropolitana de Belém, e sua cauda debaixo da Basílica de Nazaré: é o percurso
da tradicional procissão do Círio de Nazaré, com 3,3 quilômetros de extensão.
Os mais antigos dizem que se algum dia a cobra acordar ou mesmo tentar se
mexer, a cidade toda poderá desabar. Por isso, em 1970 quando houve um tremor
de terra na capital paraense, dizia-se que a tal cobra havia se mexido. Os mais
folclóricos iam mais longe: "imagine se ela se acorda e tenta sair de
lá!".
Em Roraima,
conta-se que Cunhã Poranga ("índia bela") apaixonou-se pelo rio
Branco e, por isso, Muiraquitã ficou com ciúme. Para se vingar, Muiraquitã
transformou a bela índia na imensa cobra que todos passaram a chamar de Boiúna.
Como ela tinha um bom coração, passou a ter a função de proteger as águas de
seu amado rio Branco.
Entre as
populações que habitam as margens dos rios Solimões e Negro, no Amazonas,
acredita-se que quando uma mulher engravida de uma visagem, a criança fruto
desse terrível cruzamento está predestinada a ser uma cobra-grande.
Há quem
acredite que a cobra-grande pode nascer de um ovo de mutum.
Segundo uma
lenda mais comum no Acre, uma cobra-grande se transforma numa bela morena nas
noites de luar do mês de junho, para seduzir os homens durante os arraiais de
festas juninas, como se fosse a versão feminina do boto.
O
folclorista Walcyr Monteiro conta que em Barcarena (PA) existe o lugar
conhecido como "Buraco da Cobra-Grande", atração turística do local.
Misabel
Pedrosa diz que a Cobra-grande mora debaixo do cemitério do Pacoval, na ilha de
Marajó.
Fonte: Wiki
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