No sul da França há uma Zona pertencente à região de Languedoc, uma zona chamada Gévaudan. Em Gévaudan a presença de lobos era frequente e eles sempre atacavam os rebanhos locais. Porém, os lobos não faziam mal algum às pessoas e só atacavam se fossem ameaçados.
As mortes
Em
30 de Junho de 1764 uma jovem de 14 anos chamada Jeanne Boulet é
encontrada morta na região, com marcas que mostram se tratar de
mordidas ou arranhões de algum animal. Esse caso atraiu atenção
especial dos povos locais, pois teria sido a primeira morte causada
por um lobo na região. O corpo da jovem foi encontrado próximo
a um córrego onde ela havia ido encher um cântaro de água. Ela
havia sido horrivelmente mutilada e seu coração, segundo as
estórias, fora devorado pela fera.
Depois
da morte da adolescente, outras tantas pessoas tiveram o mesmo fim
trágico. Estima-se que entre 60 e 100 pessoas acabaram mortas pelo
animal. Outras fontes afirmam que o número de mortes pode ter
chegado a 200, mas é muito difícil averiguar de fato quantas
pessoas sucumbiram perante ao animal.
Ninguém
conseguiu ver a fera atacando, mas algumas pessoas que haviam
escapado da emboscada armada pela criatura afirmavam que a fera era
um lobo imenso, muito maior do que qualquer lobo antes visto. Segundo
os relatos o animal teria o tamanho de burro, ou uma vaca de pequeno
porte. Algumas fontes afirmam que a criatura seria dotada de cascos
ao invés de patas de lobo, mas essa descrição não poderia ser
válida, afinal de contas algumas das vítimas apresentavam marcas de
ferimentos provocados por garras.
O
primeiro encontro relatado com a fera aconteceu em maio de 1764,
ainda antes da morte de Jeanne Boulet, na floresta de Mercoire
próximo de Langogne na porção oriental de Gévaudan. Uma jovem que
cuidava de seu rebanho de gado percebeu uma forma escura espreitando
em meio aos arbustos. Ela contou que a fera saltou da mata investindo
contra os animais, mas os touros conseguiram mantê-lo à distância
com seus chifres. A criatura atacou por uma segunda vez lutando
contra os touros, um comportamento incomum para um lobo, mas foi
repelida novamente. Os animais conseguiram ganhar tempo suficiente
para a mulher apavorada escapar e chegar até seu vilarejo, onde ela
contou o que havia acontecido. Os homens da vila se armaram e foram
até o local, encontrando alguns animais feridos, mas nenhum sinal do
lobo.
Em
virtude do grande número de ataques e vítimas fatais, alguns
começaram a suspeitar que haveria mais de uma fera, um par ou quem
sabe até uma alcateia dos temíveis animais. De fato, algumas
testemunhas relatavam ter avistado a fera no momentos em que ela era
vista em outro lugar. Alguns também diziam ter visto o enorme lobo
andando com outros animais menores que ele parecia liderar. Os
relatos se multiplicavam e um estranho boato começou a se espalhar:
o de que a fera seguia as ordens de um homem misterioso todo vestido
de couro preto que apontava as pessoas que a fera deveria matar. Para
alguns era um nobre decadente que tornava o assassinato seu esporte,
para outros era o próprio diabo.
As crenças na besta sobrenatural
A
medida que a Besta de Gevaudan continuava a matar sistematicamente,
as pessoas começaram a acreditar que por trás das suas ações
havia algum componente sobrenatural. Caçadores perdiam o rastro da
fera no meio da floresta, armadilhas eram ignoradas, armas pareciam
negar fogo e os mateiros não entendiam como um lobo tão grande era
capaz de se esquivar de todas as buscas. A habilidade da criatura em
sobreviver a todas as tentativas de eliminá-la e o fato dela
preferir matar mulheres parecia algo claramente sobrenatural. Os
camponeses passaram a acreditar que não estavam enfrentando um
simples lobo, mas um loup-garou, um lobisomen. Apesar de todas as
providencias para aumentar a segurança erguendo cercas e acendendo
tochas durante a noite, não havia sinal da fera diminuir a sua sede
de sangue.
Em
outubro de 1764 dois caçadores retornaram das matas da região
contando uma estranha história que acabou colaborando com a crença
de que a criatura teria poderes sobrenaturais. Eles afirmaram terem
atirado contra a besta, que se encontrava a cerca de 10 passos de
distância, mas nenhum dos projéteis foi capas de derrubar o animal,
que acabou correndo para a floresta enquanto a dupla recarregava as
armas. O relato poderia muito bem ser encarado como uma fábula de
bravura e coragem fantasiosa, mas o desespero local era tão grande
que a história/estória acabou sendo usada para provar a crença de
que a criatura tinha poderes sobrenaturais.
O
relato da dupla de caçadores causou tanto impacto na região que
organizou-se um grupo de caça para ir até o local em que os
caçadores afirmaram ter encontrado a besta. Esse grupo de caçadores
encontrou facilmente os rastros de sangue adentrando o bosque,
exatamente no local em que os homens haviam alvejado a criatura.
Diante da quantidade de rastros, todos acharam que seria questão de
tempo até encontrarem a carcaça da fera em algum ponto da floresta.
Os homens entraram na parte mais profunda da mata, onde descobriram
vários corpos de vítimas até então desaparecidas, mas nenhum
sinal da fera responsável por aquele massacre. Quando se preparavam
para retornar, o lobo surgiu sorrateiramente, investindo contra os
homens e fazendo mais quatro vítimas fatais. Os sobreviventes
contaram que dispararam inúmeras vezes, acertando o alvo, mas cada
vez que a besta era baleada, se levantava para atacar novamente.
Aterrorizados, os homens fugiram sem olhar para traz.
Começa uma gigantesca caçada
O
chefe da milícia local, o Capitão Duhamel foi incumbido pelo
próprio Rei Luis XV de encontrar e eliminar a ameaça responsável
por deixar os camponeses em um estado de terror tamanho, que colocava
em risco as colheitas. Duhamel organizou uma enorme grupo de
voluntários formado por dezessete caçadores experientes montados à
cavalo, um estoque de mais de 40 mosquetes previamente carregados e
uma parelha de mais de trinta cães de caça. O grupo chacinou todos
lobos que viviam na região. Segundo contas, mais de 200 animais
foram mortos, mas nenhum deles se parecia com a elusiva Besta de
Gevaudan.
Finalmente
em novembro, o grupo de Duhamel avistou a fera e a perseguiu pela
floresta, mas a perdeu em uma área onde os cavalos não conseguiram
adentrar. Seguindo à pé, os implacáveis caçadores não se
renderam e depois de encontrar com o enorme lobo em uma clareira
dispararam contra ele supostamente o alvejando repetidas vezes. Ainda
assim, a fera conseguiu escapar para dentro do bosque. O grupo
acreditando que o animal não poderia sobreviver a todos os
ferimentos infligidos retornou a Gevaudan onde foram recebidos como
heróis.
Dias
se passaram sem nenhuma notícia da fera, até que no final de
dezembro, perto do Natal, mais uma mulher desapareceu. O grupo de
busca localizou os seus restos terrivelmente mutilados em uma ravina:
o pesadelo continuaria. A credibilidade do Capitão Duhamel caiu por
terra e ele foi destituído depois que um dos seus homens de
confiança quase foi linchado por uma multidão furiosa.
A
história de terror que acometia Gévaudan chegou a Paris. O Rei
Luis XV acabou oferecendo uma generosa quantia em dinheiro ao caçador
que conseguisse abater a besta. Isso acabou trazendo a França uma
número imenso de caçadores vindos de diferentes partes da
Europa. Alguns caçadores agiam de má fé tentando ludibriar as
autoridades reais. Um homem chegou a apresentar a carcaça de um
animal estranho e incomum, alegando que havia abatido a criatura após
uma épica caçada. O mestre de caça, reconheceu os restos pelo que
eles de fato eram, uma hiena, que aparentemente havia sido trazida do
norte da África.
A morte de uma criatura
Em
21 de setembro de 1765, finalmente uma notícia boa: uma suposta
besta é abatida por Antoine de Beauterne, um renomado taxidermista
de Paris, que já havia realizado caçadas em diferentes partes do
mundo.
O
grupo de caça liderado por Antoine conseguiu encurralar a fera.
Foram disparados um grande número de tiros contra o animal. O golpe
que matou definitivamente o animal foi uma machadada na cabeça.
Tratava-se
de um lobo nunca visto antes, que media 183 centímetros de
comprimento e 87 de altura, com esse tamanho, ao ficar de pé ele se
tornava mais alto do que uma pessoa. O animal pesava cerca de 90
quilos.
Beauterne
tentou preservar a criatura a fim de levá-la até o Rei, mas apesar
de seus esforços, a carcaça havia recebido muitos danos durante a
caçada. Tudo o que ele conseguiu salvar foram as orelhas, os dentes
e o rabo, todo o resto foi queimado e enterrado nos arredores do
vilarejo.
Antoine
foi recebido como herói e logo tornou-se rico e famoso.
Mortes voltam a acontecer
Por
mais de um ano, as coisas ficaram tranquilas em Gevaudan e a vida foi
voltando ao normal. Então, na primavera de 1767 as mortes
reiniciaram. Duas crianças haviam desaparecido e o corpo de uma
mulher sem a cabeça foi achado em um descampado. Beauterne foi
chamado para retornar a Gevaudan, mas ele afirmou que aquelas mortes
não eram o trabalho de um lobo, e sim de um maníaco.
Com
o tempo o retrato da besta foi mudando, e agora se tratava de um
homem lobo ou um homem que virava um lobo.
Em
19 de junho de 1767 uma segunda criatura é morta, dessa vez por um
caçador chamado Jean Chastel. Chastel disse que matou a criatura
usando uma bala de prata que foi benzida por um padre.
Ao
abrirem o estômago dessa fera encontraram restos humanos. Chastel se
tornou muito famoso por ter dado fim a segunda leva de ataques.
A
besta foi embalsamada e levada de cidade em cidade para que as
pessoas pudessem vê-la, em troca de uma pequena contribuição, é
claro. Infelizmente para a ciência moderna, os métodos de
preservação da época não eram bons o bastante e o que restou da
fera acabou chegando até Paris em um estado deplorável. O fedor
incomodou o Rei de tal forma que ele ordenou que os restos fossem
levados de sua presença imediatamente. Há informações
contraditórias a respeito do que aconteceu com a Besta então. Para
alguns ela foi queimada e suas cinzas espalhadas ao vento, apesar dos
protestos de Chastel. Outros dizem que a carcaça chegou a ser levada
até o genial taxidermista Beauterne que restaurou a fera e a vendeu
para um nobre colecionador.
Seja
como for, os restos da lendária Besta de Géaudan jamais foram
recuperados, causando mais de dois séculos de controvérsia a
respeito de sua real identidade. Em 1960, após estudar a transcrição
de Antoine de Beauterne a respeito do processo de dissecção da fera
por ele abatida, uma comissão de zoólogos concluiu que o animal
descrito era realmente um lobo. Franz Jullien, taxidermista do Museu
Nacional de História Natural de Paris, encontrou amostras dos dentes
da Besta de Gevaudan guardadas no arquivo do Museu e as submeteu a
testes, concluindo que se tratavam realmente de presas de um lobo de
grande porte. Em 1979, restos de um animal empalhado foram
encontrados guardados no depósito do museu em uma caixa. Segundo
boatos, seriam os restos do espécime que Jean Chastel abateu com
suas balas de prata. O animal foi aparentemente identificado como uma
hiena nativa do Norte da África, Oriente Médio, Paquistão e Oeste
da Índia.
Documentário do History Channel aponta para farsa de Chastel
Em
2009, o History Channel exibiu um programa chamado "The Real
Wolfman", onde o caso de Gévaudan foi investigado
cuidadosamente. No programa, foi mostrado que provavelmente a fera
que causou os ataques era algum animal domesticado que estava sobre
ordens de um homem. Um lobo, segundo o programa, seria impossível de
se domesticar. Um cachorro não teria foça o suficiente na mordida
para quebrar ossos do jeito que a fera quebrou.
Por
fim, chegaram a conclusão de que o animal domesticado teria sido uma
ou mais Hiena(s).
Essa
hipótese havia sido levantada pelo novelista Henri Pourrat e
pelo naturalista Gerard Menatorv que propuseram a hipótese de uma
hiena ter sido trazida por negociantes de animais e uma vez recusada
em um zoológico, libertada na floresta. Há ainda outra hipótese
que coloca em xeque a credibilidade de Jean Chastel. Segundo rumores,
o pai de Chastel possuía uma hiena em sua menageria (um termo do
século XVII usado para coleções de animais mantidos em cativeiro).
Alguns pesquisadores acreditam na possibiliadde de Jean Chastel ter
inventado a estória a respeito do loup-garou e usado a hiena que
pertencia a menagerie de seu pai para se auto-promover.
Isso
levanta a questão a respeito de quem seria então o responsável
pelas mortes após Beauterne ter eliminado o grande lobo.
E
por incrível que pareça, o homem que estava por trás dos ataques e
que domesticou o animal foi Jean Chastel, segundo o documentário
citado acima.
Jean
afirmou ter matado a fera com apenas um tiro de bala de prata no
coração, um tiro certeiro. Foram feitos testes com os melhores
atiradores usando espingardas (arma que Jean usou) e balas de prata.
Os testes provam que a bala de prata é muito menos certeira e
destrutiva do que a bala convencional, de forma que seria quase
impossível um homem acertar o coração da fera em apenas um tiro
usando espingarda e bala de prata. E se acertasse era capas de que o
projétil nem perfurasse o coração, pois a bala de prata é pouco
destrutiva.
Isso
seria a prova de que provavelmente o animal era domesticado, de forma
que foi treinado para chegar perto de Jean e ficar parado para que o
caçador pudesse lhe dar um tiro certeiro no peito. Assim, Jean
levaria o crédito de ser o assassino da fera e ficaria rico e
famoso.
Mas
nada prova que isso é 100% verdade e acredita-se que houveram várias
bestas. Além do mais, o relato das testemunhas passa longe de se
encaixar em uma hiena, o que poderia indicar que a primeira criatura
de fato era um lobo selvagem que causou todas as mortes relatadas, e
a segunda leva de ataques teria sido provocada por Jean Chastel, com
o intuito de ficar famoso e rico pelos seus feitos como caçador.
Esse
caso deu origem à lenda dos lobisomens e àquela história de que só
morrem com tiro de bala de prata. A morte de todas essas pessoas é
real e realmente foi uma ou mais feras que causaram isso.
Fonte: Noite Sinistra
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